segunda-feira, 5 de julho de 2010

Universo ego



Algumas pessoas julgam o suicídio como ato de covardia, fraqueza ou alguma forma de resignação. No entanto, diante do número de grandes pensadores que se suicidaram ao longo da história, me parece no mínimo ingênuo, ou demasiadamente crédulo, por assim dizer, acreditar que mentes tão ativas em todos os casos só o tenham feito por puro ato de covardia. Os casos devem ser analisados em suas particularidades. Não tenho a intenção de, maneira alguma, defender a causa daqueles que tem outras vidas das quais dependem de sua existência e ignoram esse fato vendo no suicídio uma solução para seu desespero, nem ao menos tenho a mínima pretensão de afirmar o suicídio como a solução para todas as angústias humanas
Porém, para um verdadeiro pessimista do qual da vida não espera mais nada que torne sua existência válida e que não tem nenhuma vida sequer dependente da sua, a covardia está no não suicídio. Estes que acreditam, ou dizem acreditar, que a vida não passa da mais genuína miséria e ainda sim respiram o ar que a esse mundo pertence, relutando ir de encontro ao eterno repouso do nada, são sim covardes. Schopenhauer foi um grande exemplo de covarde, mente pensante com várias teorias marcantes e algumas bastante notáveis, que não teve coragem de dar fim ao que este julgava inútil, deixou-se apenas esvair com os anos.
Aos que ficam no meio termo, sem conseguir se encontrar completamente em meio aos otimistas e pessimistas, ou aos que simplesmente temem qualquer certeza e que pensam, resta o desassossego. O eterno inconformismo. Sofrerão sempre os que pensam, sofrerão os que pensam que pensam... sofrerão os que esperam e antecipam seus futuros ou os que simplesmente não enxergam futuro nenhum...
O principal causa-dor disso tudo está no ato de observar. O mundo ao qual este tanto falamos se resume nas relações, nos dialogos, nos aparentes monólogos, nos gestos. Nada é aleatório e tudo representa algo.
O ser humano é mesquinho e compete a todo tempo, a cada palavra. A partir do momento que impregamos substantivos/adjetivos como "vencedor", "perdedor" para classificar desenvolvimento pessoal, caractetizamos a vida como mera competição. Pode-se ouvir opiniões a respeito de que o instinto do ser humano é ser competitivo. Oras, colocar a culpa no instinto parece para muitos uma boa saída. Mas mesmo se esta fosse uma explicação aceitável, o ser humano se deixando levar pelo instinto se caracterizaria como pouco racional...e desta forma a partir da irracionalidade, minimizaria a responsabilidade por seus atos. Quando no entanto o ser humano tem sim consciência de seus atos, e torna-se mais desprezível justamente por ser racional.
A vida está nos modos de dizer e só é possível interpretar o mundo, desesperar-se ou acalmar-se observando.

Observar é remédio e veneno ao mesmo.