segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Depresjon


Antes eu me sentia mal por não conseguir escrever sobre meus momentos de alegria, mas agora simplesmente não consigo escrever sobre nada, nada espontâneo, nada preciosamente meu, nada vivo...
E num súbito, sendo engolida pela vontade de escrever o que não consigo dizer, só consigo falar sobre ela.
Alguns anos atrás fomos apresentadas, e rapidamente nos tornamos íntimas. Tão íntimas que ela nunca deixou de estar ao meu lado. Posso falar sobre ela com uma certeza da qual jamais conseguiria sobre várias coisas, como quem fala de si próprio ou de um amante, como quem sabe exatamente do que está falando, como quem conhece o fim da história.
Ela sempre se senta comigo do lado de fora e observa... observa como quem vê um filme antigo, com o roteiro um pouco vazio e sem perspectivas para um grande fim. E me faz sentir saudades das vezes em que questionei a lógica da existência, quando ainda ansiava por respostas que suprissem espaços... e na ausência de crença nessas respostas, consiste toda a inutilidade desta dor.
Progressivamente desinteressada e desencantada pela maioria das coisas, num eterno retorno que nunca cessa. Até o que me traz alegria, me traz dor e algum receio... receio de ter encontrado o caminho e, por causa dela, um dia voltar a estar perdida.

"E depois disso, eu fiquei ali... deitada... esperando minha vida adormecer para que então eu pudesse sair. E saí de fininho para a minha vida não acordar..."

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Universo ego



Algumas pessoas julgam o suicídio como ato de covardia, fraqueza ou alguma forma de resignação. No entanto, diante do número de grandes pensadores que se suicidaram ao longo da história, me parece no mínimo ingênuo, ou demasiadamente crédulo, por assim dizer, acreditar que mentes tão ativas em todos os casos só o tenham feito por puro ato de covardia. Os casos devem ser analisados em suas particularidades. Não tenho a intenção de, maneira alguma, defender a causa daqueles que tem outras vidas das quais dependem de sua existência e ignoram esse fato vendo no suicídio uma solução para seu desespero, nem ao menos tenho a mínima pretensão de afirmar o suicídio como a solução para todas as angústias humanas
Porém, para um verdadeiro pessimista do qual da vida não espera mais nada que torne sua existência válida e que não tem nenhuma vida sequer dependente da sua, a covardia está no não suicídio. Estes que acreditam, ou dizem acreditar, que a vida não passa da mais genuína miséria e ainda sim respiram o ar que a esse mundo pertence, relutando ir de encontro ao eterno repouso do nada, são sim covardes. Schopenhauer foi um grande exemplo de covarde, mente pensante com várias teorias marcantes e algumas bastante notáveis, que não teve coragem de dar fim ao que este julgava inútil, deixou-se apenas esvair com os anos.
Aos que ficam no meio termo, sem conseguir se encontrar completamente em meio aos otimistas e pessimistas, ou aos que simplesmente temem qualquer certeza e que pensam, resta o desassossego. O eterno inconformismo. Sofrerão sempre os que pensam, sofrerão os que pensam que pensam... sofrerão os que esperam e antecipam seus futuros ou os que simplesmente não enxergam futuro nenhum...
O principal causa-dor disso tudo está no ato de observar. O mundo ao qual este tanto falamos se resume nas relações, nos dialogos, nos aparentes monólogos, nos gestos. Nada é aleatório e tudo representa algo.
O ser humano é mesquinho e compete a todo tempo, a cada palavra. A partir do momento que impregamos substantivos/adjetivos como "vencedor", "perdedor" para classificar desenvolvimento pessoal, caractetizamos a vida como mera competição. Pode-se ouvir opiniões a respeito de que o instinto do ser humano é ser competitivo. Oras, colocar a culpa no instinto parece para muitos uma boa saída. Mas mesmo se esta fosse uma explicação aceitável, o ser humano se deixando levar pelo instinto se caracterizaria como pouco racional...e desta forma a partir da irracionalidade, minimizaria a responsabilidade por seus atos. Quando no entanto o ser humano tem sim consciência de seus atos, e torna-se mais desprezível justamente por ser racional.
A vida está nos modos de dizer e só é possível interpretar o mundo, desesperar-se ou acalmar-se observando.

Observar é remédio e veneno ao mesmo.

sábado, 13 de março de 2010

Ode ao Ódio



"Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!"


Magnífica imperfeição emotiva. Maldita apatia, maldito estado de inconsciência. Onde estão meus íntimos esconderijos, que você mesmo ajudou-me a criar, quando os preciso?
A pífia vontade de não sentir nada que se desenvolveu em mim desde sempre, ímpia incapacidade que não me serve de nada, insiste em não funcionar quando a preciso.
Amaldiçoada seja essa pústula que cresce dentro de mim toda vez que a emoção é relacionada a ti. O varolizo, o valorizo muito e sofro por não conseguir transformar tudo em indiferença.
Faz-se um nó em minha garganta toda vez que me pergunto o que sinto por ti, é um sentimento forte, voraz. Te amo e te odeio, uma mágoa crônica, uma angústia e frustração. Constantemente me odeio por sentir te odiar, e te odeio mais ainda por me fazer te odiar.
Essa indolência de que tanto fala não existe, antes existisse... por vezes muito a desejei. Sou o que sou pelo o que sinto por você, como se olhando para um espelho reverso fui criando uma lista de tudo o que me é indigesto, ofensivo.
Sinto muito por ser seu depósito de frustrações e neuroses e sinto mais ainda por nunca ter conseguido cortar essa conexão.
Mas prometo-te da minha parte fazer o possível para extenuar essa verdade, antes que um de nós termine de ser engolido por esse sentimento cancerígeno.
Enquanto isso destrua-se como quiser, mas não me torne culpada pela maneira odiosa como me ensinou a viver.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Words are violence


"Words like violence
Break the silence
Come crashing in
Into my little world
Painful to me
Pierce right through me
Can't you understand
Oh my little girl"


Os ouvidos não poderíam ter pálpebras, porque ao menos um de nossos sentidos necessita ser constante. Uma questão de sobrevivência.
Existem palavras que gostaríamos de não ter ouvido. Se apenas ouvissemos o que nos agrada e pudessemos filtrar todas as outras palavras inconvenientes, assim o faríamos. E assim nos mergulharíamos na fraqueza. Portanto, essa é uma das "armas" da natureza contra a tolice humana. Somos incapazes de bloquear os ouvidos e os pensamentos.
É curioso também como mesmo as coisas das quais já sabemos, dentro de nossa mente, podem nos incomodar quando alcançam nossos ouvidos.
No entanto, a palavra é bruta e só faz sentido aos pedaços, enquanto é digerida. Não se pode obedecer ao primeiro impulso, fazer tudo ao acaso, é preciso digerir pouco a pouco, com eficiência.
A verdade nem sempre está no que é ouvido, mas no que está por trás disso. Até a mais pífia mentira tem algo de real a nos dizer, mesmo que seja em seu sentido oposto.
Intrísecos membros do movimento padrão social, as pessoas estão desesperadas por falar e na incapacidade de bloquearem-se auditivamente, tentam transformar as palavras em triviais. O valor das palavras não está na frequência, ou na quantidade, mas nas razões subentendidas que as formulam.

Os ouvidos não são outra coisa senão uma das principais fontes de tudo o que é real da maneira mais relativa.