sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Do ser


"Drained by the anger and grief 
Fazed by the envy and greed 
The secret cries for a release
The lucidity hidden deep in sweet pandemonium"

Desde a mais tenra infância, recordo-me de viver absorta em pensamentos. Gritos e sussuros na mais ensurdecedora inquietude.
Profundissimamente claustrofóbica, este ambiente me causa repugnância. 'Sobia-me à boca uma ânsia análoga à ânsia'. As pernas se agitavam convulsivamente, não me aguentava dentro de mim.
Desperta de um sono, inconformada e inadaptável. Algo terrível mas adorável. Pregada aos indizíveis abismos do meu mistério.

Lançada ao mundo cansada, letárgica das ruínas de ser.
Toda vez que senti o súbito de gritar por ajuda, corri. Me isolei, até que passasse. Quando finalmente recuperava a razão, meu estado era o próprio desengano.

Tomada por um sentimento contraditório. Não havia sequer um mendigo que eu não invejasse, simplesmente por não ser eu. Ao mesmo tempo, não haveria qualquer ser no universo que me afeiçoasse de ser, simplesmnte por não ser eu e minha singularíssima doença perpétua.

Porque sou mais sã enquanto deliro. Sou mais calma no meu pandemônio.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Tratado de tolerância


“Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!” Tragam-me mais bisturis do que todos os corpos que bisturis já abriram no mundo.
Tenho claustrofobia do mundo; e de mim.
Luto contra as garras do empobrecimento da própria razão, dentro da delimitação de uma configuração lógica, em que nada é relativo e tudo é previsível. Fujo do conforto dos hábitos e o conformismo da complementaridade correndo diretamente em sua direção, num movimento que tange o ridículo.

E se penso que tudo é relativo, onde se encontra o limite?
O limite está, pois, na relação com o outro.
Se de fato o limite é a alteridade, a alteridade é o que limita.

Este “esterco epileptoide sem grandezas, histeria-lixo dos espetáculos, senilidade social do conceito individual de” humano.
Meu desdém, meu asco.
Pequeno em grandeza, enorme em quantidade. Monte de excremento, síntese da mediocridade constitutiva do estatismo.

Espécie mesquinha; egoísmo altruísta; veneno de si próprio.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A dimensão


À margem da falta de expectativas, antes tudo era pequeno, vulgar e sonífero.
Tomada pela sincera incompreensão e intolerância com aqueles que gritavam a vida com uma voluptuosidade quase histérica, os dias seguiam. Clamei por silêncio. Calem-se todos, poupem-me todos.

Sentada aqui agora nesse templo, onde tudo tem seu cheiro; me encontro totalmente incapaz de traduzir para o papel o que vai além do inteligivel.
Tomada por proporções tão altas que já não se pode controlar, evitar ou ignorar, só sei o que sou, porque somos.
Não em uma necessidade defeituosa de quem precisa-para-ser, mas na lucidez de quem descobriu uma outra maneira de ser; e assim o quer ser, ser sempre, sermos sempre, para sempre.

"'Tenho em mim todos os sonhos do mundo'
O maior deles, porém, já faz parte de mim
Para jamais se perder.
Você. Para sempre você.
Sem ter que esquecer
Sem até breve. Sem de repente
Para sempre o êxtase de sentir-se completo
Sem exceto. Sem receio
Não há mais alheio. Não há mais "mas"
O que somos não se suporta pelo mundo, universo
Somos o inverso da expressão 'limite'
E que se evite classificar
Evitamos.
Contemplamos a inexplicabilidade de termos (e sermos) um ao(o) outro
e nos unimos, harmonicamente, em um espaço físico/temporal paralelo
A dimensão eu/você = um"

Essas linhas quem escreve são duas (almas) mãos em uma.


Ao nosso transcender.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

The flame


" Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível, já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje, as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria."

Não é nada cômodo, não é barato, não é fácil e não é nada próximo ao que eu imaginava viver um dia. Por isso é bem mais.
Recordo-me de te observar por alguns minutos em silêncio, te amando mais ao constatar teus olhos entrando nos meus. Mas também me recordo de te ver hesitar, e eu morrer por dentro.
Meu melhor encontrava-se trancafiado em algum lugar no meu peito. Tão bem camuflado que cheguei a pensar que o tivesse perdido, extraviado-o em algum cais. Nunca pensei que teria um amor desesperadamente estável.
E eu, inesperadamente, consegui.
Atos vazios ou palavras geladas daquele de quem é quase insuportável de se ter. Justamente por isso dói tanto. A dor vem embalada no amargo embrulho da surpresa inconveniente, da nostálgica falta de esperança.
Os olhos tentam ocultar qualquer sinal de insatisfação, mas sempre nos traem enquanto fitam o chão ou o nada de maneira obsessiva. Pecamos com o silêncio contido em uma expressão triste. Pesada. Ou numa distância ensaiada. A nossa mente revela ter um poder masoquista inigualável e se diverte com a memória de toda e qualquer palavra já proferida.
Faça tudo. Mas não seja como eles. Não permita que toda aquela intensidade que conheci torne-se em um sistema mecânico carente de óleo, lógico, prático e vazio.
Não precisa ser perfeito, nem fácil. Mas precisa ser verdadeiro.
Às favas toda a lógica e a racionalidade. Se você puder me amar, desesperadamente e inconsequentemente, tudo em você me basta, até me faltar.