
Segundo o dicionário: "atitude emotiva concernente ao futuro e que se caracteriza por alternativas de medo e esperança".
A euforia, a compulsão, o ódio e todo as as grandes explosões são, ou costumavam ser, míopes os olhos seus que assistiam a esses fenômenos.
Odiava pensar que se tornaria escrava de sua própria falta de atitude, tomando assim todas as providências para que qualquer imprevisto não resultasse em grandes contusões; congelamento do sistema nervoso central.
Abdicar a preciosidade da solidão e do silêncio não pareceu por alguns anos algo sensato. E ela conseguia manter-se falante e em silêncio da maneia que mais a parecesse conveniente.
A solidão em companhia pode parecer para muitos algo vazio... mas para esta parecia algo confortável.
Politicagem, cordialismo e qualquer demonstração acrílica de interesse, a parecia massante em demasia. O segredo do auto-controle era o de se manter do outro lado do vidro, um bem grosso e resistente, mas que permitisse a passagem do som até um volume que não ferisse seus ouvidos.
Do outro lado do vidro ela começou a parafrasear idéias sobre a naturalidade das coisas. Vejam, como um exemplo medíocre, a dança: se alguém não houvesse dado um nome ao ato de mexer os pés, as mãos e os quadris em algum tipo de sintonia, tornado isso um costume, ou até mesmo uma ferramenta de socialização e associado isso a um ato de euforia, que traz prazer, talvez você não tivesse vontade de dançar, não sentiria prazer nisso e assim sendo não teria razões para fazê-lo. Muitos diziam a ela que as coisas aconteceriam da mesma maneira, apenas desconheceríamos o nome. Mas para ela isso chamava-se psicossomática, sua principal ferramenta de firmação atrás do vidro.
Se mantendo lá por alguns anos, muitas relações, percebeu as rachaduras que se alastravam e os sinais de que aquele vidro não duraria muito mais. Ou ela substituía o vidro por um novo, ou esperava o final deste mesmo.
A natureza não faz nada supérfluo; o vidro desmoronou.
Vez ou outra ela ainda tentou se colocar atrás de algum caco que sobrara, mas o vidro agora é o que a parecia algo
desinteressante. Mesmo não sabendo muito bem como é na prática essa coisa de espontaneidade, ela foi simplesmente brotando. E o poder impermeabilizante do vidro não existe mais.
É como se ouvisse a confissão desconcertante: "humana".