quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Anxietate



Segundo o dicionário: "atitude emotiva concernente ao futuro e que se caracteriza por alternativas de medo e esperança".
A euforia, a compulsão, o ódio e todo as as grandes explosões são, ou costumavam ser, míopes os olhos seus que assistiam a esses fenômenos.

Odiava pensar que se tornaria escrava de sua própria falta de atitude, tomando assim todas as providências para que qualquer imprevisto não resultasse em grandes contusões; congelamento do sistema nervoso central.

Abdicar a preciosidade da solidão e do silêncio não pareceu por alguns anos algo sensato. E ela conseguia manter-se falante e em silêncio da maneia que mais a parecesse conveniente.
A solidão em companhia pode parecer para muitos algo vazio... mas para esta parecia algo confortável.

Politicagem, cordialismo e qualquer demonstração acrílica de interesse, a parecia massante em demasia. O segredo do auto-controle era o de se manter do outro lado do vidro, um bem grosso e resistente, mas que permitisse a passagem do som até um volume que não ferisse seus ouvidos.

Do outro lado do vidro ela começou a parafrasear idéias sobre a naturalidade das coisas. Vejam, como um exemplo medíocre, a dança: se alguém não houvesse dado um nome ao ato de mexer os pés, as mãos e os quadris em algum tipo de sintonia, tornado isso um costume, ou até mesmo uma ferramenta de socialização e associado isso a um ato de euforia, que traz prazer, talvez você não tivesse vontade de dançar, não sentiria prazer nisso e assim sendo não teria razões para fazê-lo. Muitos diziam a ela que as coisas aconteceriam da mesma maneira, apenas desconheceríamos o nome. Mas para ela isso chamava-se psicossomática, sua principal ferramenta de firmação atrás do vidro.

Se mantendo lá por alguns anos, muitas relações, percebeu as rachaduras que se alastravam e os sinais de que aquele vidro não duraria muito mais. Ou ela substituía o vidro por um novo, ou esperava o final deste mesmo.

A natureza não faz nada supérfluo; o vidro desmoronou.
Vez ou outra ela ainda tentou se colocar atrás de algum caco que sobrara, mas o vidro agora é o que a parecia algo
desinteressante. Mesmo não sabendo muito bem como é na prática essa coisa de espontaneidade, ela foi simplesmente brotando. E o poder impermeabilizante do vidro não existe mais.
É como se ouvisse a confissão desconcertante: "humana".

10 comentários:

  1. "O segredo do auto-controle era o de se manter do outro lado do vidro, um bem grosso e resistente, mas que permitisse a passagem do som até um volume que não ferisse seus ouvidos." Esse trecho é belíssimo e muito expressivo. Um texto de força e profundidade. A, e obrigado pelo selo, fico grato.

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  2. lindo, adorei teu texto... Eu queria que meu vidro quebrasse e eu parasse de me esconder de tudo e todos...mas enfim, adorei teu blog, escreves divinamente.
    Bjus...

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  3. Sei o que se passa. Já me senti assim. E admito, foi bom !

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  4. Talvez o ato de olhar através das nossas redomas (in)suficientes nos dê uma certa noção de controle, cotrolar pensametos é impossível, mas atentamos sempre às coisas que não estão em nossas mãos, como o destino, se é que destino, no sentido manos místico da palavra, existe.
    A loucura se aproxima da humanidade quando nos damos conta do que realmente somos.

    adorável post!!

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  5. Adorei a descrição da bailarina de caixinha de música. Vidro que bloqueia a espontaneidade? Acho que já vimos com esse defeito de fábrica, e são poucas as pessoas que conseguem de fato quebrá-lo, porque tem um vidraceiro muito competente que está sempre atento àqueles que se arriscam a estragar o trabalho dele: chama-se "sociedade" - e suas ferramentas são o pensamento popular, concervador, e, claro, os preconceitos. :)

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  6. e então, eu leio poucas palavras de uma pessoa desconhecida, e logo caio em um devaneio.
    "Politicagem, cordialismo e qualquer demonstração acrílica de interesse, a parecia massante em demasia. O segredo do auto-controle era o de se manter do outro lado do vidro, um bem grosso e resistente, mas que permitisse a passagem do som até um volume que não ferisse seus ouvidos."

    e então você descobre que existe algo que pode ser melhor (ou não) fora deste vidro, como você faz para livrar-se do mesmo?

    eu voltarei, garanto-lhe.
    um beijo.

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  7. Relembrando (Quanto a sua pergunta a respeito de se conseguimos exorcizar nossos demônios, creio que não... apenas os amenizamos para seguir na linha mais aceitável da sanidade.)

    É tem razão. Apenas amenizamos, até mesmo porque se fosse assim, simplismente exorcizá-los seria fácil demais.

    Agradeço o elogio.

    Ótimo texto. Evitamos a qualquer custo, mas um dia o vidro sempre se quebra. o ideal seria não tê-lo, mas me parece quase impossível.

    Boa semana.

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